domingo, 2 de outubro de 2016

Sobre beijo... (Martha Medeiros)

Todo mundo sonha com aquele beijo made in Hollywood, 
que tira o fôlego e dá início a um romance incandescente. 
Pena que nem sempre isso aconteça na vida real. 
O primeiro beijo entre um casal costuma ser suave, investigativo, decente. 
Aos pouquinhos, no entanto, 
acende-se a labareda e as bocas dizem a que vieram. 

Existe um prazo para isso acontecer: 
entre cinco minutos depois do primeiro roçar de lábios até, 
no máximo, cinco dias. Neste espaço de tempo, 
ainda compreende-se que os beijos sejam vacilantes: 
tratam-se de duas pessoas criando um vínculo e testando suas reações. 
Mas se a decência persistir, não espere ver estrelinhas na etapa seguinte. 
A química não aconteceu. 

Beijo é maravilhoso porque você interage 
com o corpo do outro sem deixar vestígios, é um mergulho no escuro, 
uma viagem sem volta. 
Beijo é uma maneira de compartilhar intimidades, 
de sentir o sabor de quem se gosta, de dizer mil coisas em silêncio. 
Beijo é gostoso porque não cansa, não engravida, não transmite o HIV. 
Beijo é prático porque não precisa tirar a roupa, não precisa sair da festa, 
não precisa ligar no dia seguinte. 

E sem essa de que beijo é insalubre porque troca-se até 9 miligramas de água, 
0,7 grama de albumina, 0,18 de substâncias orgânicas, 
0,711 miligrama de matérias gordurosas e 0,45 miligrama de sais, 
sem contar os vírus e as bactérias. 
Quem está preocupado com isso? 
Insalubre é não amar.